As lesões na coluna decorrentes da prática esportiva são mais frequentes do que imaginamos, elas correspondem a cerca de 10% a 15% dos registros médicos de atletas, e podem ser divididas em dois grandes grupos: sobrecarga (overuse) e lesões agudas.
Esportes de contato podem causar diferentes graus de lesão traumática, abrangendo desde simples distensões à graves lesões com déficit neurológico. Já atletas praticantes de modalidades com gestos esportivos repetidos de hiperextensão, flexão, rotação do tronco e carga axial (saltos), estão mais sujeitos a terem lesões por sobrecarga (overuse).
Algumas lesões específicas da coluna, por estarem relacionadas aos traumas agudos ou sobrecarga com movimentos repetidos, são mais prevalentes em praticantes de esportes; destacam-se: espondilólise e espondilolistese, lesão do anel apofisário, neuropraxias (stingers e burners) e quadriparesia transitória. Além disso os atletas também podem apresentar outras lesões mais comuns, como contusões, distensões e entorses; hérnias de disco lombar e cervical e fraturas.
O tratamento das lesões da coluna em atletas profissionais, via de regra é semelhante ao da população geral; no entanto, deve levar em conta a necessidade de recuperação precoce, a importância da prática esportiva como atividade profissional, a maior disponibilidade de tempo para reabilitação e a demanda do atleta.
É importante que conheçamos os principais tipos de lesões para entender como acontecem e de que forma podem ser prevenidas, independente de ser atleta profissional ou praticante amador de alguma atividade física no dia a dia.
Contusões, distensões e entorses:
São as lesões mais comuns no esporte. As distensões podem ocorrer na junção miotendínea ou na própria musculatura, já as entorses, acometem estruturas ligamentares. As contusões envolvem trauma em partes moles da região, na maioria das vezes por golpe direto sobre a musculatura contraída. Essas lesões podem coexistir como resultado de um único evento traumático.
Para que sejam evitados, é importante que os esportistas se certifiquem de estar efetuando os movimentos de maneira exata. Para aliviar o desconforto, recomenda-se que o indivíduo faça repouso e exercícios de fortalecimento muscular.
Artrite Facetária
As articulações facetárias também costumam ser afetadas pela prática de esportes. Em geral, isso decorre de movimentos repetidos de rotação ou hiperextensão, causando sobrecarga articular e inflamação (sinovite ou artrite facetaria), gerando dor e desconforto nos atletas, especialmente em modalidades como ginástica, levantamento de peso, tênis e vôlei.
Saber realizar o gesto esportivo com a técnica correta, auxilia na redução dessas lesões.
Hérnia de disco
Atletas praticantes de modalidades com salto e rotação da coluna ou sobrecarga com movimentos de flexão do troco e levantamento de peso podem apresentar risco aumentado para hérnia de disco lombar. Modalidades com uso de capacetes pesados, traumas axiais na região da cabeça e flexão repetida do pescoço apresentam risco aumentado para hérnias de disco cervical.
Os sintomas podem ser somente dor lombar ou cervical, ou de dor irradiada para os membros dependendo do tamanho e localização da hérnia.
A taxa de retorno a prática esportiva chega a 90% em atletas profissionais após microdiscectomia lombar após 6 meses, e 80% após descompressão e artrodese cervical após 1 ano. Atletas submetidos a artrodese cervical em 3 níveis ou mais, ou na coluna cervical alta (C1 e C2), apresentam contra-indicação para prática de esportes de contato.
De forma geral, o tratamento das hérnias de disco em atletas, evolui bem, seja ele clínico ou cirúrgico, com a grande maioria, retornando a prática profissional sem diminuição da performance.
Espondilólise e Espondilolistese
A espondilólise é uma causa comum de dor na coluna em atletas adolescentes, sua incidência é especialmente alta em atletas que praticam esportes que envolvem flexão e hiperextensão repetida, combinadas com rotação; como mergulho, luta livre, levantamento de peso, tênis, voleibol e ginástica.
O movimento repetido, provoca distúrbio do “turnover ósseo” numa região chamada de ístmo ou pars interarticularis, resultando em fratura por estresse. Além da prática esportiva, o aumento da lordose também predispõe a ocorrência de espondilólise.
A espondilólise faz com que ocorra perda do mecanismo de “gancho”, das vértebras adjacentes, permitindo escorregamento da vértebra superior em relação a inferior, chamado de espondilolistese ístmica. Caso ocorra progressão desse escorregamento, as raízes nervosas do nível acometido podem ser comprimidas e também causar dor irradiada para o membro inferior.
Lesão do anel apofisário
São lesões causadas por microtraumas de repetição, tipicamente encontradas em adolescentes e adultos jovens, nos quais o anel apofisário e o corpo vertebral apresentam-se incompletamente fundidos antes dos 18 anos de idade. Os corpos vertebrais de L4 e L5 são os locais mais acometidos. Jovens ginastas apresentam risco aumentado para essa lesão.
O material discal pode estruir através do defeito formado, causando uma hérnia de disco sem lesão do ânulo fibroso. O quadro clínico é muito semelhante ao da hérnia de disco lombar, com sintomas de lombalgia ou dor irradiada para o membro inferior quando existe compressão neural.
O tratamento também é semelhante ao da hérnia de disco lombar, com medicação e fisioterapia, sendo a descompressão cirúrgica reservada aos casos que não respondem positivamente ao tratamento clínico. O tempo de retorno ao esporte varia de 3 a 6 meses.
Neuropraxias
Também conhecidas como “Stingers” e “Burners”, essas lesões são definidas por um episódio de disestesia ou choque no membro superior, após inclinação lateral forçada e abrupta da coluna cervical, podendo ou não estar acompanhada de perda de força.
Estima-se que as neuropraxias ocorram pelo menos uma vez em mais de 50% dos atletas praticantes de esportes de contato.
As raízes mais altas (C5, C6 e C7), são as mais envolvidas. A duração dos sintomas pode variar de segundos a minutos, mas alguns sintomas, principalmente perda de força, podem persistir por semanas.
A necessidade de exames de imagem ou eletroneuromiografia depende da persistência dos sintomas e do número de episódios. A Ressonância Magnética da coluna cervical pode confirmar a estenose foraminal e anomalias do disco. A investigação do plexo braquial também é valida, podendo apresentar algum edema inferindo lesão.
A eletroneuromiografia pode ser realizada caso a fraqueza motora não melhore após duas semanas, e pode diferenciar lesões das raízes cervicais de lesões do plexo braquial, além de graduar o tipo de lesão em neuropraxia ou axoniopatia.
Quadriparesia transitória
Seus sintomas incluem vários graus de distúrbios motores, de perda de força a plegia completa podendo acometer dois ou quatro membros. Os distúrbios sensitivos também variam, de disestesia até anestesia. A duração dos sintomas é curta, geralmente 10 a 15 minutos, mas sintomas residuais podem persistir por 36 a 48 horas. A permanência estendida provavelmente não será considerada como praxia.
Essa lesão decorre de um trauma associado a presença de estenose cervical, retificação ou inversão da lordose, fusão congênita, instabilidade e protrusões ou herniações discais. Os atletas devem ser avaliados por meio de Radiografias e Ressonância Magnética para verificar a integridade dos elementos espinais.
A praxia é causada por um bloqueio fisiológico da condução nervosa, resultando em disfunção axonal do nervo periférico, sem lesão anatômica, seu tratamento varia de acordo com a permanência dos sintomas; os corticosteroides podem ser utilizados, além de analgésicos e repouso.
Fraturas
As fraturas durante a prática esportiva podem ser benignas e estáveis, como fraturas isoladas dos processos espinhoso ou transverso, ou fraturas por impacção do corpo com integridade da parede posterior e do complexo ligamentar.
No entanto, fraturas associadas a traumas de alta energia durante atividade esportiva com mecanismos de flexão-distração ou flexão-compressão, podem causar instabilidade e dano neurológico.
Um atleta com suspeita de fratura na coluna, deve receber adequado atendimento pré-hospitalar, com colocação de colar cervical, mobilização em bloco e transporte em prancha rígida, até a transferência ao hospital de referência; onde deve ser submetido a avaliação clínica e radiológica detalhada com atenção a presença de qualquer alteração neurológica, ou fraturas concomitantes em diferentes segmentos da coluna e instabilidade.
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